29 de abril de 2012

O Preconceito, a Sociedade, e os movimentos sociais.

Quer perder a fé na humanidade? Então converse com a sua família ou as pessoas que você ama, e opine sobre preconceito, racismo, sexualidade, sociedade...

Começou do nada, como sempre. É recorrente discorrermos sobre o tema. Mas sempre me vencem, porque sempre me falta palavras, tão incertas, para certezas tão lógicas, retas, imbatíveis. Mas, em resumo, as coisas giram em torno disso:
Eles: "Gay não é normal. Se Deus criou o homem e a mulher, e só assim acontece a reprodução, então homem deitar com homem e mulher deitar com mulher, não é só pecado, é anormalidade."
Eu: "Vocês devem ser um casal virgem, então, porque estão juntos há quase uma década e nunca tiveram filhos. Qual é, gente! Sexo não é só pra reprodução! Deixem os gays transar que nem vocês, todos têm direito à diversão!"
Eles: "Ah, mas a gente respeita. Até gostamos de gays, eles são divertidos. Só que eles são anormais, e eu vou educar o meu filho para ser heterossexual."

Pior fica quando falamos sobre racismo.
Eu: "Um dia o preconceito contra os negros acaba."
Eles: "Nunca acaba, porque todo mundo nota que a gente é diferente. Mas nós respeitamos os negros. Até já 'fiquei' com uma negra."
Eu: "Acaba, sim. Mas vai demorar, porque primeiro vocês vão ter que aprender que não existe 'raça negra' e nem 'raça branca', da mesma forma que não existe 'raça do nariz chato' e 'raça do nariz adunco'."

Sim, tudo isso me deixa triste, porque tudo se resume numa coisa só: indivíduo versus sociedade. Mas o que eles sabem sobre isso?!

Meus parentes não lêem muito. Quando sim, apenas livros sobre auto-estima, como vencer na vida e sobre Jesus Cristo ou Kardecismo. Eles também não assistem filmes muito bons. Eu assistia o lançamento "The Help" enquanto eles assistiam o lançamento "Capitain America".

Então, meus parentes não entendem seu papel social. Acham que a vida sempre foi assim, como sempre vai ser. Não havia quem os alertasse de que nós somos construídos pela sociedade, mas que também a construímos. Ainda guardam apenas o que receberam no colegial.

Ignorantes, tadinhos... Mas deixa assim. Pra que tentar superá-los em argumentos? Só por vaidade, pra provar que eu penso mais?

NÃO!

É para que eles não pensem que tudo sempre foi assim, e muito menos que tudo sempre vai ser desse jeito!
A televisão não ensina o que os livros ensinam. Tampouco os hollywoodianos.
Enquanto eles, crioulos latinos de cabelos difíceis, assistiam o americano gostosão derrotar alemães malvados, eu assistia brancas burguesas dos anos 60 tratarem empregadas "negras" como uma raça diferente - uma sub-raça, aliás -, enquanto elas conversavam, coloridas e risonhas, entre si, como nós hoje, que as coisas são como sempre foram.

Mas somos tão cristãos, não é? Ofereço a outra face, sou piedoso e pratico a caridade. O que significa que eu sei ter pena. Mas "a gerra e o valor realizaram mais coisas grandiosas do que o amor ao próximo. Não foi vossa piedade mas a vossa bravura que até hoje salvou os náufragos." (Nietzsche)

Eu não sou antropólogo, nem historiador, nem sociólogo, nem jurista. Na verdade, nem realmente desejo guardar dados sobre os grandes acontecimentos. Sou um artista (não, não como profissão, seu filhote capitalista), e a arte não tem data, só espaço. Prefiro confiar na inteligência dos meus amigos, às vezes, e ficar sabendo as coisas por eles.

E foi por eles que eu ouvi o que não queria acreditar: que as grandes transformações sociais só acontecem através da violência. As revoltas, a queda do apartheid, o dia da mulher, Martin Luther King...

É como se, no conforto do lar, entre pessoas amadas, não conseguíssemos resolver os problemas do mundo. É como se fossemos predominantemente bestiais ainda.

Mas, se for para ser uma fera, que ao menos o gay, o negro e o ateu possam comer, transar e se divertir como só as feras bem sabem fazer.

Se for para ser uma besta, que ao menos meu egoísmo seja respeitado e eu seja livrado dessas vestes extremamente apertadas que são as convenções sociais.

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