30 de março de 2019

Poema sem título, 2010

Este é um diário de confissões
Daqueles sem fatos nem fotos
Algumas vitórias mas todas as derrotas
Para me lembrar do meu lugar
Eu não preciso ser perfeito
E daí se um dia apostei que seria?
Minhas tristezas não precisam ser tragédias
Podem ser apenas rancores de uma mente amarga
Minha história é de alguém que não tentou
Contos do espírito que se embotou
Nada de corações partidos, nem crítica social
Só alguém que perdeu sempre antes da largada
Tudo ocorreu aqui dentro de mim
Eu sabia como reagiria a você
Então dei um nó no meu estômago
E tudo acabou já no epílogo
Hoje eu conto as estiletadas nos meus pulsos
Que contam pecados inconfessáveis
Pois eu sou uma jóia toda cravejada
Com as cicatrizes do meu desejo por ti
Assim nasceram as minhas marquinhas
Uma nas costas pelos teus olhos
Outra nos dedos pela tua pele branca
Uma bem funda na coxa pela tua juventude
A tua vista me machucava, sempre foi assim
Mais que brasa no olho
Sorte a lâmina que me purificava
Em um tributo a tua beleza
Olha este manto perene que me veste
Estampado com a mais fina arte do meu ser
Ela esconde, atrás da amargura, uma face
A face de alguém que não tentou
Minha sina sempre foi você
Mais o silêncio nos meus lábios
Que me impedem até hoje de dizer


Que o mais importante pra mim é você

19 de outubro de 2015

Estes últimos dias têm sido muito difíceis para mim. A tensão diária, as responsabilidades e o próprio clima da cidade me fazem acordar a cada manhã com um certo pavor do que me aguarda nas próximas horas.

Pelo que minha memória alcança no passado, eu sempre tive a atitude de um cavaleiro medieval indo para guerra: todas as manhãs eram um ritual de vestir e prender firmemente a armadura, e olhar para o futuro como se este fosse um dragão a ser combatido, contra o qual teria poucas chances de sobrevivência.

Não consigo agora calcular de onde surgiu esse desconforto cotidiano em viver, nem a origem desta capacidade de me cercar de proteção. Ou seria, na realidade, incapacidade de ser quem eu realmente sou e fazer com que o mundo, este dragão voraz, me aceite e me respeite, queira ele ou não?

Minha tia Amaltéia

Amaltéia é uma mulher admirável. Seu senso de organização e sua capacidade (quase subconsciente) de planejar o futuro marcam a personalidade de uma pessoa sumariamente prática.
De fato, tem-se a impressão de que, se ela fosse largada no meio da selva, apenas com as roupas do corpo, Amaltéia seria capaz de fundar uma civilização inteira. E tudo com um toque peculiar de requinte.

Pensamentos rápidos, atitudes ágeis, trejeitos impacientes até. Tudo era edificar, erguer, limpar, reconstruir. Família, casa, trabalho, filhos, vizinhança, país... Ah! como seria simples se a humanidade apenas obedecesse esta mulher. Este vaso naquele canto, esta renda para aquele fim, a parede desta cor, a conversa para esta finalidade...

14 de janeiro de 2014

Talvez eu não consiga ser claro, agora.
Estou com ânsia de choro, mas não consigo chorar.
Da mesma forma como quando estou excitado, mas não consigo ter um orgasmo.
Acredito que tudo isto esteja relacionado, de alguma forma.
Mas o que eu queria dizer é que é muito ruim ter baixa auto-estima.
Um dos piores fatores é o fato de depender da opinião dos outros em relação a você para tudo:
Se dizem que você é feio, O.K., você concorda que é feio.
Se dizem que você é delicioso, O.K., você se torna delicioso e fica ótimo por isso.
Mas, mesmo se sentindo ótimo, você ainda é dependente… Você quer guardar aquela pessoa para si, porque ela é a fonte da sua estima, não você mesmo.
É uma situação terrível!
Porque ninguém tem tanta energia para dispensar a outro. Você nunca vai encontrar a plenitude num relacionamento se você tiver baixa autoestima.
Mas uma doação de carinho pode ser como uma bênção, ou como uma droga… Você daria tanta coisa por aquele momento fugaz… Porque, em última análise, não importa o quão danosa você tenha concluído que sua conduta é, não importa que você reconheça a solução do problema, aquele momento viciante vale por tudo. Pelo menos naquele momento.

O que é pior?

Nascer cego, sem ter nunca tido a experiência de enxergar a beleza do mundo, ou tornar-se cego depois de já havê-las contemplado? Ser pedra ou tornar-se pedra?

E por falar em pedra, que maravilha ser duro, frio e finito! Porque a pele é lisa, tenra, flexível, os músculos são fortes e vulneráveis ao mesmo tempo. E nada leva tão além do êxtase quanto a carne entumecida. Suor, saliva, sangue. Mas tudo isto é perene, difícil, instável e, acima de tudo, dolorido.

(Publicado em 2019)

10 de novembro de 2013

"A política não é um berçário; em política, obediência e apoio são a mesma coisa".

Hannah Arendt.

3 de novembro de 2013

Algo sobre Totalitatismo

[...] Eles [os regimes totalitários] tentam eliminar a consciência individual e, com isso, a humanidade de todos nós. Tentam extrair o que há de diferente em cada ser humano, para fazer de cada um apenas uma peça, uma engrenagem sem poder de decisão, num todo ideal - daí o nome "totalitarismo". [...]
Helio Gurovitz.

Antes eu acha que o "politicamente correto" era apenas uma grande bobagem. É mais sério: tornou-se uma exercício de controle, travestido de boas intenções. Sob a capa de democrático, revive anseio por um mundo totalitário e, por que não dizer, fascista.
Walcyr Carrasco.


Revista Época, Julho de 2013.

19 de outubro de 2013

3 de outubro de 2013

25 de setembro de 2013

Um Adeus

Oi, blog.
Hoje eu vendi meu videogame.
Estou levemente sentimental por isso, já que mais uma vez tive de dizer adeus a um pedacinho de mim.
Afinal, aquele aparelhinho retangular e preto formou grande parte do meu universo na época da adolescência. Mas eu não podia mais ficar com ele... Estava ficando velho, logo estragaria por desuso e, depois, ele agora poderia fazer a alegria de um outro jovem. Assim eu pensava, enquanto abria a caixa empoeirada e conferia se tudo estava em ordem para passar adiante.
Confesso que quando peguei o memory card na mão senti uma dorzinha no estômago. Eu não queria ser infantil, mas não consegui deixar de pensar que naquele pedaço de plástico estavam registradas algumas das minhas (maiores) conquistas, junto com algumas boas lembranças, como as partidas de Soul Calibur com meu primo, os níveis máximos de dificuldade que alcancei em God of War e os dias de chuva na praia...
É estranho mesmo, e realmente infantil, avaliar que eu tinha mais orgulho destas pequenas conquistas no mundo virtual do que tenho de outros tipos de conquistas, aqui no muito real.

13 de setembro de 2013

O Espelho de Galadriel

[...] - E agora finalmente ele chega. Você me oferece o Anel livremente! No lugar do Senhor do Escuro, você coloca uma Rainha. E não serei escura, mas bela e terrível como a Manhã e a Noite! Bela como o Mar e o Sol e a Neve sobre a Montanha! Aterrorizante como a Tempestade e o Trovão! Mais forte que os fundamentos da terra. Todos deverão me amar e se desesperar!
Levantou a mão e o do anel que usava emanou uma grande luz que iluminava a ela somente, deixando todo o resto escuro. Ficou diante de Frodo e parecia agora de uma altura incalculável, e de uma beleza insuportável, terrível e digna de adoração. [...]

Trecho extraído de A Sociedade do Anel, de J. R. R. Tolkien.

8 de setembro de 2013

O que será de nós?

Você seleciona palavras.
Eu, sentimentos.
Passei a sentir menos
Cada vez mais.
de Fernanda Mari Fagundes Fujihara.

1 de setembro de 2013

"[...] Eu era vivo, inquieto, queria saber das coisas. Lia muito. Escrevia poesia. Não era boa poesia, era antes desabafo, um grito de socorro. Meus poemas começavam com frases reticentes ('Sou uma palha jogada ao vento...') e terminavam sempre com uma interrogação veemente, em letras maiúsculas: 'POR QUÊ?'. Escrevi mais de duzentos sonetos desse tipo."

Moacir Scliar, em "A Festa no Castelo".

20 de agosto de 2013

Arranhões, por Caroline Jambour

"Às vezes postar aqui no blog é a mesma coisa que contemplar uma folha em branco na qual eu preciso desenhar e não conseguir encontrar o fio que me levará ao resultado final.Eu tenho uma necessidade muito grande de me expressar, mas nessas vezes eu fico em silêncio porque não consigo responder às perguntas internas: o que vale a pena ser dito? E eu tento imaginar as pessoas que lerão ou verão o que eu escrever ou postar aqui, e meio que não consigo enxergá-las na minha mente. Eu não consigo me comunicar com elas, e nem comigo mesma. Aí me calo." [...]


Caroline Jambour é uma artista curitibana. Suas ilustrações ricamente coloridas e suas obras artesanais possuem forte apelo à natureza e evocam a magia que dela provém - quase sempre algo visceral e sombrio, mas nem por isso menos belo.

Acesse: Fada Mariposa

19 de agosto de 2013

Design

"Design é uma desarrumação de uma lógica instituída, que dá lugar a pensar novas lógicas, novas funções e novas formas. [...] Design é usabilidade, manufaturabilidade e viabilidade comercial. Design racionaliza, dá clareza, facilita a vida, fornece metodologia." - Valéria London.


15 de agosto de 2013

Amor e Bico de Bulsen

"Acredito no amor, porque não há mais nada em que acreditar, porque, se não fosse isso, sobraria do mundo apenas matéria. Amo por não desejar ser mais uma partícula sílica, invisível, a se desprender das paredes das casas que avisto. Amo porque temo a solidão. Amo porque, sobretudo, odeio toda essa química."

12 de agosto de 2013

9 de agosto de 2013

Ausência

[...]
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, 
que rio e danço e invento exclamações alegres, 
porque a ausência assimilada, 
ninguém a rouba mais de mim.

(C. D. A.)

20 de julho de 2013

Desabafos inarticulados

Quem sou eu, que não me conheço mais? Quem é essa pessoa cheia de pressa para chegar em lugar nenhum? Quais são minhas músicas, meus livros, meus jogos?

Sei que já saltei do Expresso de Hogwarts, da cabine por onde eu via a vida desfilar através do vidro. Mas quem sou eu agora e o que fiz com o que eu era antes? Raspei a tinta com que me pintaram os sentidos, como recomendou Caeiro, mas não havia nada embaixo. Teria já a máscara aderido ao meu rosto, como na Tabacaria?

Nas lembranças, somente risadas histéricas, fugas, medos, más escolhas e o bolo sobre a mesa, que não comi porque era para a visita. Saudades? Não. Antes, angústia de ter esquecido estes tantos rostos flutuando opacos na minha mente... Lembro de já ter amado alguns, mas como posso ter amado quem eu nunca sequer olhei nos olhos? É como se eu houvesse a vida inteira mirado apenas os bicos dos sapatos. Sem em torno, sem início, sem fim, sem extensão, sem destino, sem noção.

Para onde eu quero ir, afinal? Mais importante ainda, para onde estou me encaminhando?

12 de julho de 2013

A absurda poesia de saber voar

Andorinhas

Doidivanas no céu,
as andorinhas
seguem o vento,
sem metas, sem destino,
sem lógica, sem rimas,
no êxtase, apenas,
dos múltiplos desenhos
que traçam no ar,
sem qualquer geometria,
só a absurda poesia
do saber voar.
(Alberto Lisboa Cohen)