Desde os anos
80, o liberalismo comportamental no mundo ocidental rompe com tabus
consolidados desde a Idade Média e dá abertura para a legitimação das uniões
consensuais, dos indivíduos divorciados, dos pais e mães solteiros, das uniões
homossexuais, etc.. Do ponto de vista econômico, por sua vez, este quadro,
intensificado no séc. XXI, revela o caráter versátil e dinâmico dos
profissionais requeridos para os novos tempos, que cultivam menos suas raízes e
que priorizam a qualificação profissional.
No
Brasil, já desde a Constituição de 1988, os cidadãos não devem ser julgados
(nem punidos) segundo preceitos religiosos. Culturalmente, contudo, o
desligamento dos valores religiosos tem sido tardio. E isto pode explicar o
porquê de a imagem de família estar mudando no séc. XXI. Enquanto, hoje, os
brasileiros experimentam novas formas de relacionamento, levadas a cabo pela
compreensão expandida acerca de valores como amor, união, prazer, lealdade,
entre outros, a própria base da organização social muda.
Pelo
prisma da renovação, nota-se uma sutil mudança na forma como os indivíduos
relacionam o dinheiro e a vida profissional com a idealização da estabilidade
doméstica e familiar. Com o mercado de trabalho se tornando mais exigente na
necessidade de profissionais com maior conhecimento técnico-científico, percebe-se
que o investimento financeiro dos indivíduos tem migrado mais para a educação
que para a aquisição imobiliária, por exemplo. Nos últimos anos, o aumento da procura
pelo Ensino Superior evidencia esta realidade. Por conseguinte, a reserva financeira
destinada à própria educação inibe o despendimento para a criação dos filhos,
por exemplo. É comum, portanto, perceber que estados como o Rio de Janeiro e o
Rio Grande do Sul apresentam maior estatística de jovens solteiros e famílias
reduzidas do que estados menos desenvolvidos, como os do Norte, como
demonstrado pelo IBGE. Também, as pessoas nas economias centrais brasileiras
estão mais expostas ao intercâmbio cultural com países desenvolvidos, onde o
comportamento dos indivíduos é mais liberal. Outro fator que justifica a queda
no número de matrimônios, o adiamento dos casamentos e o aumento das “uniões
temporárias” é a mobilidade que as oportunidades de trabalho requerem dos novos
trabalhadores. Com o fluxo de migração da mão-de-obra qualificada brasileira
para o exterior e para as outras unidades da federação, os novos profissionais
tendem a adiar e pensar menos na estabilidade familiar, tão valorizada nas
décadas passadas.
Contribuindo
para este contexto, nota-se uma certa mobilização institucionalizada na lei
brasileira. Do ponto de vista jurídico, destaca-se a legalização da união
homossexual no ano de 2011, que revela uma preocupação por parte do poder
público em garantir direitos a cidadãos de comportamentos diversos dos padrões
convencionais, elevando-os ao mesmo patamar dos demais indivíduos que integram
a sociedade.
O
Brasil demonstra, assim, ser digno de pertencer ao quadro dos países em rápido
desenvolvimento, pois, embora haja muito o que se conquistar em termos de
desenvolvimento humano e econômico, nota-se uma mobilização positiva em direção
da conquista de direitos civis e uma mudança no modo de os indivíduos
compreenderem o sucesso pessoal: agora algo mais ligado ao sucesso financeiro
que à manutenção do “status” familiar.
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