21 de abril de 2013

Visita ao fim do mundo


Esta fotografia é de um dos muitos túmulos do cemitério da Irmandade de São Miguel e Alma, em Porto Alegre. Não estou bem certo se é legal publicá-la sem autorização, mas vou arriscar. É que esta, como tantas outras imagens, me deixou intrigado.

Veja bem. Você visita aquele lugar imenso - um verdadeiro condomínio de cadáveres, com vários andares, alas e escadarias -, e não pode deixar de refletir, nem que seja um pouco, sobre a extensão da vida e, claro, sobre a finitude de sua própria existência.

São tantas datas e tantos rostos! Todos eles habitaram este planeta, viveram no mesmo lugar onde você vive agora, e visitaram também sabe-se lá quantos outros lugares! Quantas experiências tiveram, quantos sorrisos, trejeitos, amores, opiniões, estudos, carreiras...! Para cada fotografia, assinatura, nome, a sua imaginação dispara: teria sido uma bailarina? Teria alguma vez participado de uma marcha de protesto? Teria sido um avô sábio? Teria escrito algum livro, ou uma carta ao menos, onde tivesse registrado seus pensamentos?

Ou, mesmo tendo sido apenas um operário, bancário, secretária ou enfermeira - assim, nada com muito glamour -, teria sido uma pessoa grave? Reflexiva? Já chorou de decepção? Já xingou Deus?

Não é pena, necessariamente. É mais curiosidade. Tudo bem, há sim um lamento intrínseco nesta contemplação... Afinal, nenhum deles vai poder voltar e lhe contar como foi estar vivo. Então, você vai ter de se conformar, e esperar a sua vez de deixar outro visitante curioso.

Mas, o que realmente marca é esta realidade: não importam seus sonhos, sua posição social e seus feitos em vida, pois, no final, você vai escorrer pelo mesmo ralo. Inevitavelmente.

Então, qual a lição que você tira disso tudo? Esta: não se preocupe com o amanhã, nunca pense em "deixar a sua marca no mundo", não dê satisfações ao céu, nem aos homens ao redor. Simplesmente viva.

Simplesmente viva e aconteça.

Um comentário: