Quando ouvi pela primeira vez algo sobre Harry Potter, Hogwarts, Dumbledore, trouxas e etc., a saga já era um best seller que havia atravessado o Atlântico, o mega poster que cobriu um prédio em São Paulo já havia descido, o primeiro filme já estava disponível nas locadoras e a legião de fãs (talvez nem tão grande na época) já estava formada, e acabava de se recuperar das sombras do quarto volume da série.
Fora em 2000, se não muito me engano (eu devia estar na oitava série). Eu, contudo, ainda nunca havia me apaixonado na vida. Um dia, estava bisbilhotando a prateleira da locadora de vídeo atrás de um bom filme (em VHS!), quando parei na frente daquela capinha... "Harry Potter e a Pedra Filosofal"...
Eu sempre gostei de magia, por isso não titubeei em pegar o filme. Eu só não imaginava que estava prestes a embarcar num trem sem volta para a maior saga de todos os tempos.
Aquelas cenas que formavam umas duas horas de filme, duraram, para mim, uma noite inteira! Quando tudo terminou e a tela ficou preta e as letras começaram a subir, eu já estava irremediavelmente envolvido naquele mundo absurdo de cores chamativas, ouro e prata, música, magia, aventura, e segredo. A fascinação perdurou por tempo suficiente até a chegada de A Câmara Secreta aos cinemas; e quando isso aconteceu, não pude evitar de tremer sobre o terror dos ataques misteriosos em Hogwarts, e também por reviver, com algumas novidades, aquele fascínio que aprendi no filme anterior. Depois daquela sessão de cinema, eu nunca mais vivi sem Harry, Rony, Hermione e toda Hogwarts e o mundo bruxo. Fui atrás dos livros; experimentei aquilo que tantos leitores pelo mundo haviam experimentado de tão bom que chegou a levar a história ao cinema.
Eu ainda sou um grande fã da saga. Estou aqui com meus 22 anos, já com alguns cabelos brancos, com os sete volumes da série desbravados, e no aguardo da conclusão da saga nos cinemas. Ainda existe a expectativa, mas é meramente uma curiosidade de ver nas telas a tradução do que vivi nas páginas. A demais, considero as adaptações cinematográficas uma celebração da obra literária, como um troféu.
Mas, enquanto outros fãs revestem-se dos uniformes de Hogwarts, adquirem bonecos, revistas, objetos relacionados a saga, eu, não menos fã, tenho apenas comigo os sete volumes, para ler quando quiser. Acontece que me sinto tão íntimo da estória, como se Hogwarts fosse tão minha, que não suporto a idéia de que outros a conheçam também. Sim, seu eu pudesse, queria que ninguém mais nesse mundo conhecesse Harry Potter, apenas eu. Egoísmo? Pode ser, mas é o que eu sinto.
Embora eu já tenha aceitado o fato de não haver recebido uma coruja com o convite para ingressar na escola de magia (afinal, eu já tinha mais de 10 anos quando fiquei sabendo desta possibilidade), não consigo, contudo, me conformar. Não é justo ser relegado a um universo onde não existe um grupo de inimigos a ser combatido, onde todos ao seu redor são os inimigos; onde não existe o amor como uma manifestação da magia; onde os resultados dependem do suor do rosto, e não da agilidade com a varinha; onde tem-se que aprender a dirigir carros, e não a pilotar vassouras; onde a morte é um mistério insondável; onde os vínculos de amizade são frágeis; onde adquirir conhecimento envolve submeter-se à razão, e não à contemplação.
Mas, enfim, este mundo cinza é o único que tenho. Sempre foi.
Por quase toda minha adolescência, quis negar esta realidade; quis que Hogwarts vivesse em mim, já que eu não podia viver em Hogwarts.
De fato, o tempo passou muito rápido fora do castelo, e quando me deparei com o presente, descobri que havia me deixado para trás, porque tudo mudou, como se eu nunca houvesse descido do trem e estivesse vendo o mundo pela vidraça da cabine por todo este tempo.

É duro ter que admitir, mas eu não fui um bom aluno. Devia ter escutado a lição do Prof. Dumbledore, quando disse que "não vale a pena viver sonhando, e se esquecer de viver".
"Me desculpe, Prof.", era o que eu diria se ele estivesse ainda vivo. "O espelho de Ojesed foi poderoso demais para mim..."
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