21 de novembro de 2011

A Jornada (3)

Quando Carmelo amarrava o burrico para depois entrar na taverna, foi surpreendido pelo vozerio que se fez no interior do estabelecimento. Apressou-se em ver o que acontecia lá e foi empurrado logo na entrada pela multidão enfurecida que girava em torno de algo. Quando pôde delinear a forma magra da criatura que era surrada no meio do círculo de pessoas, seu coração apertou-se de pena e indignação. Tentou entrar na densa roda de chutes e murros para desvencilhar o garoto da rudeza do povo, mas não conseguiu. Pisoteado e amassado, Carmelo foi jogado longe, esbarrando num sujeito grande, com aparência cavaleiresca, que observava com indiferença.
- Ajudai, cavaleiro! Não posso com toda essa gente!
O cavaleiro virou as costas e voltou para o bar, enquanto as pessoas violentas arrastavam sua presa para fora. - Eu não me envolveria com assuntos de família, nobre senhor. Salva vosso parente sozinho!
- Ele não é meu parente e nem vosso, mas olha o que fazem com ele! Não passa de uma criança!
- Eu também era apenas uma criança quando descobri que as pessoas são perigosas e que não se deve arranjar confusão. - disse o cavaleiro.
Carmelo não quis plantar mato em terra seca e parou de tentar ajuda do homem. Porém, notando a espada em sua cintura, puxou-a da bainha no justo momento em que ele se virava para sentar à mesa. O rapaz saiu correndo com a espada em mãos (um tanto mais pesada do que supôs), com o dono atrás dele. Saiu pela porta apressado e foi em direção da multidão.
Ergueu a arma o mais que pôde, sentindo os nervos dos braços arderem com o peso, mas tentou imprimir força na voz quando gritou. - Soltai a criança, gente rude! Que a fúria dos céus desça como trovão através desta lâmina naquele que se interpor entre mim e o pobre!
Os vileiros mal deram atenção à ameaça. O cavaleiro alcançou Carmelo, retirou-lhe a espada das mãos erguidas e restituiu-a à sua bainha. Não abstendo-se, o rapaz tentou desvencilhar o garoto uma vez mais, com as próprias mão, mas era impossível lutar com tantos homens fortes e resolutos.
Carmelo prostrou-se ao chão e orou.
- A maldade torna o homem resoluto. Não deixa, contudo, que a cegueira do ignorante  tinja de negro, também, a vida de um iluminado. Raia a razão no fundo do crânio negligente. Salva, razão, o inocente.
Um vulto passou rápido por Carmelo e uma sombra abateu-se sobre os homens da multidão.
[Continua...}

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